5 apegos que mantêm as mulheres em relações abusivas | Brazil News Informa

Sair de uma relação ruim raramente é uma escolha puramente racional. Por mais que a mente diga “isso não me faz bem”, existe algo mais profundo que nos mantém ali — uma força emocional e inconsciente que opera abaixo da superfície. E é por isso que muitas mulheres seguem presas a relações que machucam, mesmo sabendo que merecem mais.
O relatório “Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil (2025)”, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que 37,5% das mulheres permaneceram em relações prejudiciais por medo da solidão, por baixa autoestima ou por acreditarem que o outro poderia mudar. Esses dados não apenas ilustram uma realidade dolorosa — eles escancaram o quanto estamos lidando com mecanismos afetivos e psíquicos que vão além da razão.
A psicanálise nos ajuda a entender que há em nós a tendência inconsciente de repetir padrões, mesmo quando eles são destrutivos. É como se estivéssemos tentando, de forma disfarçada, resolver antigos vazios afetivos.
Abaixo, exploro lista cinco tipos de apegos que atuam como armadilhas emocionais e nos prendem a relações que já não fazem sentido.
1. A ilusão de segurança e proteção
Uma das armadilhas mais comuns está na ideia de que ser amada é ser protegida — mesmo que essa “proteção” venha disfarçada de controle. Em relações abusivas, o outro muitas vezes se apresenta como quem “sabe o que é melhor”, limitando a liberdade da mulher sob o pretexto de cuidado.
Essa fantasia está profundamente ligada ao que a psicologia chama de complexo de Cinderela: a busca por alguém que nos salve, que nos retire da nossa própria vulnerabilidade. Na verdade, o desejo por segurança extrema, aqui, encobre um medo infantil do desamparo — e é isso que o agressor manipula. Promete proteção, mas entrega prisão.
2. Medo do abandono e apego à instabilidade
O medo de ficar só é um dos afetos mais primitivos que carregamos. Ele nasce, muitas vezes, de experiências precoces de rejeição ou negligência emocional. Quando crescemos sem segurança afetiva, passamos a temer qualquer sinal de afastamento como uma ameaça à nossa própria existência emocional.
E aí surge a contradição: preferimos relações instáveis, imprevisíveis e dolorosas a encarar o vazio da ausência. A frase “antes mal acompanhada do que só” não é apenas uma crença cultural — é uma tentativa inconsciente de evitar o contato com o próprio desamparo.
3. Baixa autoestima e apego às migalhas de afeto
Quando nossa autoestima está fragilizada, qualquer gesto de carinho pode parecer grande demais. A mulher que não acredita em seu próprio valor passa a supervalorizar o que, na verdade, seria o mínimo em qualquer relação saudável.
Essa distorção emocional é muito perigosa. Ela faz com que a pessoa aceite migalhas como se fossem banquetes, e com que se convença, de forma inconsciente, de que não merece mais do que aquilo. É o tipo de vínculo que se alimenta de carência — e carência, muitas vezes, é confundida com amor.
4. Apego à admiração: quando o outro se torna espelho
Em muitos relacionamentos tóxicos, o agressor usa elogios, reconhecimento e validação como forma de manter o controle. A mulher, especialmente se tiver dificuldades com sua autoimagem, passa a depender desse olhar externo para se sentir “vista”.
Esse apego à admiração do outro é, na verdade, uma expressão da falta de um eu fortalecido. A pessoa não se reconhece como valiosa por si — precisa da confirmação constante vinda de fora. E esse mecanismo cria uma dependência emocional profunda: a relação deixa de ser uma escolha e vira uma necessidade de sobrevivência psíquica.
5. Apego à comodidade e ao “mínimo que dá para suportar”
Nem sempre é o drama que prende — às vezes, é o hábito. Muitas mulheres permanecem em relações mornas, levemente tóxicas, porque acreditam que “já estão ali mesmo”, que “ninguém é perfeito”, que “pior seria começar tudo de novo”. Isso revela um apego à zona de conforto, mesmo quando essa zona está cheia de pequenas dores diárias.
Por trás dessa resistência à mudança está o medo da transformação interna que o fim exige. Encerrar um relacionamento implica um processo de luto, de reconstrução da identidade, de reorganização da vida. E tudo isso assusta. Então, mesmo infeliz, a pessoa se mantém. Porque sair exige força — e, às vezes, um mergulho que ela ainda não consegue fazer.
Olhar com coragem para esses apegos é o primeiro passo para quebrar o ciclo
A psicanálise nos mostra que, muitas vezes, não é o outro que nos prende — somos nós que ainda não conseguimos soltar os fantasmas internos que alimentam esse tipo de vínculo. Romper não é só dizer “basta” — é entrar em contato com partes nossas que foram negligenciadas, machucadas ou silenciadas. É entender que o que dói hoje talvez seja uma repetição do que já doeu antes — e que só vai deixar de se repetir quando for, de fato, elaborado.
Libertar-se é mais do que sair de um relacionamento; é sair do enredo que nos ensinou a aceitar pouco. E, principalmente, reconstruir o próprio desejo com base no amor-próprio, não na carência.
Fonte: TNH1
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