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Descobertos na França livros medievais encapados com pele misteriosa | Brazil News Informa

Descobertos na França livros medievais encapados com pele misteriosa | Brazil News Informa


Uma descoberta inusitada no norte da França vem chamando a atenção de historiadores e cientistas. Durante a análise do acervo da biblioteca da Abadia de Clairvaux, estudiosos encontraram dezenas de manuscritos medievais raros que, à primeira vista, pareciam ter capas feitas com os tradicionais couros de animais terrestres. No entanto, uma análise mais aprofundada revelou um detalhe curioso: a textura dos materiais era mais áspera e peluda do que o comum.

Intrigados, os pesquisadores decidiram investigar a origem dessas capas. Para isso, coletaram amostras de 16 volumes utilizando uma técnica que remove fragmentos do couro por meio de uma borracha especial. Com a ajuda de métodos modernos de análise de proteínas e sequenciamento de DNA, foi possível identificar o material inusitado: a pele vinha de filhotes de foca.

A constatação é surpreendente, pois muitos dos livros analisados têm quase 900 anos. A presença desse tipo de couro sugere uma conexão com regiões distantes, onde focas eram parte do cotidiano e seus produtos largamente utilizados pela população.

Vestígios do comércio medieval

Segundo um estudo publicado nesta quarta-feira (9) na revista Royal Society Open Science, a maioria dos manuscritos foi encadernada com couro de foca-comum (Phoca vitulina), e pelo menos um deles com pele de foca-harpa (Pagophilus groenlandicus). Ambas as espécies habitam regiões do norte como Escócia, Escandinávia, Islândia e Groenlândia.

Nessas áreas, as focas eram recursos valiosos, fornecendo carne, gordura e peles impermeáveis — ideais para roupas de frio e também, ao que parece, para encadernações. Registros históricos apontam, inclusive, que em algumas ocasiões o couro de foca foi utilizado como forma de pagamento.

Apesar de ser uma prática extremamente rara no continente europeu, o uso de pele de foca para encadernar livros era mais comum em comunidades costeiras do norte. Como destaca o New York Times, na Idade Média essas regiões estavam ligadas por uma vasta e eficiente rede de comércio marítimo, o que facilitava a chegada de produtos exóticos até locais afastados do litoral, como Clairvaux.

Uma escolha estética e simbólica

Além do aspecto funcional, os estudiosos acreditam que a escolha pela pele de foca teve um forte componente simbólico e estético. Em várias dessas encadernações, o couro apresentava uma pelugem branca, que teria sido visualmente impactante na época. Essa coloração contrastava com o marrom habitual dos couros usados e dialogava com as vestes claras dos monges cistercienses, moradores da abadia.

“A Europa medieval carecia de materiais naturalmente brancos, então encontrar algo assim podia ser interpretado como algo divino”, afirmou Matthew Collins, pesquisador à frente do estudo. Ele ainda destaca como as focas eram vistas com certo misticismo pelos religiosos, sendo descritas em bestiários da época como criaturas híbridas — “bezerros do mar” ou “cães com cauda de peixe”.

Fonte: Galileu 


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